Licitação bilionária da Transpetro tem preço acima da média mundial


A abertura da primeira proposta para a megalicitação de 42 petroleiros da Transpetro, subsidiária da Petrobrás para a área de transportes, reabriu o debate sobre a incapacidade da indústria naval brasileira de competir em qualidade e preço com as concorrentes internacionais. O primeiro envelope aberto, do estaleiro Mauá Jurong para a construção de quatro navios, trouxe preços bem acima do mercado internacional, que surpreenderam até mesmo o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. A questão colocada pelo setor agora é: até que ponto vale a pena subsidiar uma indústria sem garantias de que as metas de competitividade ante concorrentes no exterior sejam atingidas? "Queremos que a indústria deslanche, mas tememos que isso não aconteça. Essas primeiras notícias começam a causar intranqüilidade", diz o diretor da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), Segen Estefen, professor da Coppe/UFRJ, uma das entidades que ajudaram a Transpetro a elaborar o processo de licitação.
Ele se refere à proposta do Mauá, que quer uma média de US$ 83 milhões por cada navio, o dobro do que se cobraria no mercado internacional. O estaleiro de Niterói foi o único concorrente a este lote, que se refere à construção de navios de produtos, para carregar derivados de petróleo. A licitação da Transpetro privilegia estaleiros nacionais, o que tirou da disputa importantes centros de referência no setor, como Cingapura e Japão. O objetivo é reativar a indústria naval brasileira, garantindo escala para o investimento em modernização dos estaleiros nacionais.
Para os especialistas, a iniciativa é nobre, mas envolve riscos. "Só porque se decidiu fazer no Brasil, tem de pagar mais caro? Não imagino que seja do interesse nacional enriquecer alguns empresários", continua Estefen. O histórico do setor naval brasileiro é recheado de problemas semelhantes. Navios construídos no País chegavam a custar três ou quatro vezes as cotações internacionais. Com a abertura da economia, a quebradeira foi geral.
O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, garante que a história não vai se repetir. Segundo ele, a empresa tem planilhas de custos que considera ideais para cada tipo de navio, elaborada em conjunto com universidades e em viagens ao exterior. Depois de abrir os envelopes, vai comparar as propostas e negociar com os estaleiros. "Vamos bater nossos números com os deles para chegarmos a valores satisfatórios", afirma. Ele não informou, porém, se pode cancelar a licitação caso não tenha sucesso.
Machado disse que já esperava preços um pouco maiores do que os do mercado internacional. Mas a idéia da empresa é forçar uma redução a médio prazo, para que a indústria se modernize e possa competir por encomendas internacionais no futuro. "Não queremos só comprar navios, queremos tornar essa indústria mais competitiva", afirma. Ele espera redução do preço inicial apresentado pelo Mauá, controlado pelo empresário German Efromovich, banido da estatal na gestão Henri Philippe Reichstul.
Técnicos do estaleiro garantem, porém, que não é possível comparar os números apresentados pela Transpetro, já que as especificações pedidas pela estatal são diferentes da média do mercado, o que encarece as obras. Mas a empresa diz que está disposta a negociar.

Recurso
A licitação prevê outros quatro tipos de navios: Suezmax, Aframax e gaseiros. No mercado comenta-se que os outros concorrentes também têm preços bem acima do esperado. "Há fatores que justificam preços um pouco maiores, como o custo do aço no Brasil, mas não um sobrepreço desse tamanho", avalia uma fonte do setor. A disputa pelas outras categorias apresenta um outro entrave: há recursos por parte de dois concorrentes - Keppel Fels e Estaleiro Ilha S.A. (Eisa) - contra sua desclassificação do processo, apresentados na sexta-feira.
As duas empresas foram desclassificadas porque não apresentaram fontes de empréstimos ou garantias financeiras para ficar com as encomendas. O recurso deve arrastar ainda mais um processo que já dura cerca de dois anos sob críticas.
Os armadores privados, por exemplo, reclamam que não conseguem encomendar navios no País enquanto o processo não é definido. "Tem empresas que tentam fazer cotações e não conseguem porque todos os estaleiros esperam pegar obras da Transpetro", diz o secretário-executivo do Sindicato Nacional dos Armadores (Syndarma), Cláudio Décour. "Quando há uma resposta, é com preços ou condições absurdas, o que mostra um desinteresse por qualquer outra encomenda".
O mercado avalia que a licitação, que por enquanto se resume a 26 navios, pode acabar como o Navega Brasil, programa de revitalização do setor lançado em 2001, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, a Transpetro licitou quatro petroleiros, que nunca saíram do papel porque o Eisa, vencedor da licitação, não conseguiu empréstimo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Há quem acredite que contratos serão assinados, principalmente em ano eleitoral, mas não cumpridos.
"Não acredito que não cheguemos a um consenso. Esse processo é do interesse de todo mundo", diz Machado. Ele acha que os primeiros contratos devem ser assinados em março e que o primeiro navio seja colocado no mar no fim de 2006 - isso não quer dizer que esteja pronto, mas é uma fase em que o casco sai do dique e começa a receber os equipamentos. "Não vamos fazer um processo de mentirinha ou de conveniência", garante Machado.


22/02/2006

Fonte: ABTC News

 

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