Estaleiros na disputa por US$ 1,5 bi na megalicitação da Petrobrás


Brasília – A megalicitação para a encomenda de 22 navios que a Petrobrás deve lançar nas próximas semanas está atraindo para o Brasil os maiores estaleiros coreanos, japoneses e noruegueses, detentores de 70% da frota marítima mundial. Pelo menos três deles – Samsung, Daewoo e Akker – já têm projetos prontos e outros prometem formar parcerias com empresas nacionais de grande porte, como as construtoras Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e Camargo Corrêa. As encomendas devem chegar a US$ 1,5 bilhão.
O ponto mais polêmico da licitação – e também o mais atraente – é que ela permitirá que sejam qualificados numa primeira fase “estaleiros virtuais”, ou seja, serão aceitos projetos de empresas financeiramente saudáveis e que comprovem experiência no setor, mas não necessariamente tenham se instalado em território nacional.
“Bastará que tenham projetos consistentes de investimentos numa planta no País. É prerrogativa número um que o navio seja construído aqui e tenha no mínimo 65% de conteúdo nacional”, diz o senador Sérgio Machado (PMDB), que assumiu a presidência da Transpetro no governo Lula. Os estaleiros já instalados brigaram por vantagens e garantiram um sistema de pontuação que os beneficia em relação aos novos.
Machado calcula que novos investimentos virão para a construção de estaleiros. As estimativas são de que sejam necessários cerca de US$ 150 milhões para adaptar áreas sem nenhuma estrutura para receber as obras. O senador lembra, entretanto, que na segunda fase da licitação, cerca de 60 dias após a primeira, será exigida licença ambiental das instalações.
A partir da assinatura dos primeiros contratos – provavelmente no início de 2005 –, a Transpetro deve fazer licitação para a encomenda de outros 20 petroleiros, além de 10 navios de apoio a plataformas e 1 navio-tanque, a serem entregues até 2015. A idéia é que todos os 115 navios da Transpetro (51 próprios, em vias de se aposentar, e outros 64 afretados junto ao mercado internacional) sejam gradativamente substituídos no futuro por embarcações próprias construídas no Brasil.
“Com isso, cria-se no País uma economia de escala que fará com que os estaleiros nacionais possam oferecer condições de preço e prazo no mesmo patamar das encontradas hoje nos estaleiros coreanos. Isso permitirá à indústria naval nacional produzir não somente para a Transpetro, mas atender a demanda local por navios de cabotagem, e além disso exportar para outros mercados”, diz Machado.
Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima, o País tem encomendas potenciais de 60 novos navios nos próximos 5 anos, a um custo total de US$ 1,5 bilhão, para contêineres e granéis.
O interesse dos investidores nacionais e estrangeiros na construção de navios, segundo alguns analistas, se deve a uma inversão da ordem da indústria naval nacional, que no passado foi praticamente subsidiada por encomendas muitas vezes não cumpridas e financiamentos escandalosos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O afretamento de navios virou regra no Brasil na década de 90, o que fez com que a indústria naval nacional, que já gerou 40 mil empregos, sucumbisse e agora represente apenas 1% do total da tonelagem mundial de navios.
Além disso, apenas 4% do total de fretes gerados pelo comércio exterior brasileiro são pagos em moeda brasileira. Considerando todo o setor marítimo, o Brasil remete ao exterior o pagamento de fretes de US$ 6 bilhões anuais.
Para o professor Segen Estefen, especializado em indústria naval e diretor da Coordenadoria de Programas em Pós-Graduação e Pesquisas em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “ressuscitar esta indústria” é levar o País a disputar um mercado que não pára de crescer. Somente no início deste ano, as encomendas mundiais de navios alcançavam a soma de 167 milhões de toneladas de porte bruto, devido principalmente ao crescimento econômico da China.
“Os maiores estaleiros no mundo todo estão abarrotados e sem espaço para pegar novas encomendas”, diz o professor, que prepara um estudo sobre as condições técnicas e financeiras dos cinco maiores estaleiros do Brasil.


18/10/2004

Fonte: Estadão

 

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