A Interbrazil S.A. encontrou terreno fértil no Paraná para crescer. De 2003 a 2005, foi a empresa de seguros contratada para garantir contra sinistros dois dos maiores patrimônios do Estado: a Copel (Companhia Paranaense de Energia) e o complexo portuário de Paranaguá e Antonina. Só a Copel tem valor de mercado estimado de R$ 1,7 bilhão.
O complexo portuário, que deve superar R$ 1 bilhão de patrimônio e tem na superintendência o irmão do governador Roberto Requião (PMDB), Eduardo Requião, está sem cobertura contra sinistros desde outubro, quando expirou o contrato da Interbrazil.
Nos dois casos, o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) deu garantias de cobertura para fechamento dos contratos.
A primeira incursão da empresa no governo do Paraná em 2003 foi na Copel. Nas duas concorrências que disputou, a Interbrazil desbancou a Sul América Seguros S.A e a Unibanco AIG Seguros S.A., ganhando, pelo critério de menor preço, os contratos de seguro das cinco empresas do grupo Copel. Para garantir a cobertura de sua apólice, em 2003, a Copel creditou para a Interbrazil um prêmio de R$ 4.442.432,94. O valor ficou próximo do estipulado no edital (R$ 4.465.400,73). Segunda classificada na concorrência pública, a Unibanco AIG pediu R$ 4.472.980,69.
O limite do prêmio estipulado em edital caiu para R$ 3,9 milhões, em 2004, quando a Interbrazil repetiria o feito. Fechou o contrato por R$ 3.846.657,70. No pregão presencial, a Sul América, com R$ 4.592.455,19, e a Unibanco AIG, com R$ 4.824.170,31, foram desclassificadas.
Hoje, o seguro da Copel está com a seguradora do Itaú. A Interbrazil não disputou o contrato.
Os contratos com a Interbrazil deixaram insegura a direção da Copel. Cartas trocadas entre o presidente da companhia em 2003, Paulo Cruz Pimentel, e o então presidente do IRB, Lídio Duarte, dão o tom da apreensão sobre uma empresa sem tradição no mercado. ""Como não dispomos de informações mais detalhadas sobre o desempenho dela [Interbrazil] em seu ramo de atuação, solicitamos os préstimos (...) quanto às obrigações de resseguros perante o IRB", pede Pimentel, em 7 de agosto, período de aparente vácuo de cobertura de todo o complexo.
""(...) A seguradora encontra-se em dia com as obrigações de resseguro perante o IRB-Brasil", responde Duarte, em 25 de agosto.
No processo de habilitação, a Interbrazil anexou cartas de referência de empresas de capital insignificante diante do porte da Copel. É o caso da Construmil -Construtora e Terraplenagem Ltda., de Goiânia, com prêmio assegurado de R$ 16 mil.
O líder da oposição na Assembléia Legislativa, Valdir Rossoni (PSDB), acusa a Copel de ter deixado seu patrimônio descoberto e acredita que a empresa do amigo do irmão do ministro Palocci só prosperou no Paraná pelo fato de Requião ter sido aliado do PT na campanha eleitoral de 2002.
O diretor-financeiro da Copel quando dos dois contratos com a Interbrazil, Ronald Thadeu Ravedutti -hoje diretor de distribuição-, disse que os contratos ""seguiram um processo rigoroso de seleção, sem ingerência política nenhuma". A Folha procurou Eduardo Requião, o atual presidente da Copel, Rubens Ghilardi, e o ex-presidente Paulo Pimentel. Ghilardi não quis falar. Requião e Pimentel não responderam.
15/11/2005
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